quinta-feira, 2 de julho de 2015

O desafio de traduzir o intrincado mundo do jornalismo científico para o leitor

Por Luan Ernesto Duarte

Foto: Alice Vergueiro 
Escapar do lobby das assessorias de centros de pesquisa, laboratórios e empresas privadas é só o primeiro desafio para jornalistas que se aventuram a cobrir uma das áreas mais técnicas da profissão: o jornalismo científico. Num mercado editorial cada vez mais marcado pela ligeireza, repórteres de publicações e editorias de Ciências discutiram hoje formas de destrinchar esse mundo para o público em geral, durante o 10º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji, em São Paulo.


No cardápio indigesto do jornalismo tradicional, a cobertura científica acaba muita vezes entrando como sobremesa. Por isso, além do desafio da linguagem, a superficialidade da divulgação também foi uma das questões abordadas.

Para Maurício Tuffani, editor-chefe da revista Scientific American Brasil, a cobertura de ciência e tecnologia ainda está muito pautada nas capas das revistas internacionais, como Nature e Science, e não tem tido olhar crítico. "Devemos ir além das publicações especializadas, ampliar o foco da fonte", enfatiza. Além disso, para Tuffani, um dos principais obstáculos para o jornalismo científico é a exposição do contraditório nas matérias em geral. "É necessário ouvir fontes independentes que possam contraditar uma pesquisa ou uma divulgação", afirma.

Por isso, acompanhar o andamento das questões científicas e ir atrás de fontes alternativas, isto é, não ficar sempre ouvindo os mesmos especialistas, é um dos melhores caminhos. Afinal, com o advento da internet, os métodos de pesquisa evoluíram mas, junto com os benefícios, também vieram os malefícios, como os casos de fraude científica que surgem na web, e a necessidade de rebater esse tipo de fonte. "De uma forma geral, a gente não vê o contraditório em uma cobertura de ciência", afirma Tuffani.

Ciência e os temas do dia a dia 

Ao contrário do que muitas pessoas podem imaginar, as notícias relacionadas à área da ciência também podem permear matérias de diversos outros assuntos. É o que destacou Álvaro Pereira Jr., editor-chefe e repórter especial do Fantástico, que começou a sua fala sobre a importância da cobertura científica nos casos que envolvem dramas humanos ou desastres naturais. Também formado em química, é especializado em jornalismo científico pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e escreve para a Ilustrada, na Folha de S. Paulo.

"Eu faço questão de fazer matéria quando cai um avião, por exemplo, porque dá para explicar muitas coisas técnicas e inserir o assunto no dia a dia", ressaltou. Como exemplo, ele citou o Dr. Drauzio Varella, que aborda de forma simples e clara os temas científicos na televisão. "Nosso desafio é falar de ciência para um público de massa, mas de um jeito atraente. Eu sempre penso no meu telespectador como um estudante do ensino médio, em busca de informações", relata.

Assim como Tuffani, Álvaro reforça a ideia de que além da linguagem, está faltando diversificar as fontes. "A internet, num ponto ruim, homogeneizou o noticiário, mas o lado bom é que qualificou. É muito mais fácil ter acesso a um material de qualidade agora".

Para quem quer se aventurar na área, ele já vai logo avisando: é preciso dominar o inglês e se debruçar sobre os debates atuais. A revista New Scientist é tida como uma das referências na área, além das coberturas internacionais como as dos jornais The New York Times, The Guardian e El País.

O 10º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e da Universidade Anhembi Morumbi com o patrocínio do Google, O Globo, Estadão, Folha de S. Paulo, Gol, Itaú, Oi, TAM, Twitter e UOL, e apoio da ABERT (Associação Brasileira de Rádio e Televisão), ANJ (Associação Nacional de Jornais), Comunique-se, Conspiração, Consulado Geral dos Estados Unidos no Brasil, FAAP, Fórum de Direitos de Acesso à Informações Públicas, Jornalistas & Cia., Knight Center for Journalism in the Americas, OBORÉ Projetos Especiais, Textual e UNESCO. Desde sua 5ª edição, a cobertura oficial é realizada por estudantes do Repórter do Futuro, sob a tutela de coordenadores do Projeto e diretores da Abraji.

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