quinta-feira, 2 de julho de 2015

Documentários ganham espaço no jornalismo investigativo


Por Jeniffer Mendonça


Foto: Camila Alvarenga
Em 2010, a produção de documentários atingiu cerca de 40 títulos, de acordo com a Revista 'Filme B'. Em meio a esse aumento, como o jornalismo tem se apropriado da linguagem audiovisual e cinematográfica para se comunicar com o público? Para o jornalista Pedro Rocha, do Coletivo Nigéria, o "formato dos telejornais está desgastado" e o documentário surge como uma alternativa para abordar questões "pouco cobertas" na mídia tradicional, que muitas vezes é “conservadora”.

Partindo desse contraponto, Carlos Juliano Barros, da ONG Repórter Brasil, afirma que a sociedade do século 21 vive um momento "embrionário e nebuloso". O investimento em produções audiovisuais determina os principais temas de discussão, mas, ao mesmo tempo, "gera uma crise de narrativa, em que a imagem supera a informação", contou em painel apresentado no 10º. Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji.

Como um dos responsáveis pelo documentário Com Vandalismo (2013), lançado online, sobre as manifestações de junho e julho de 2013 em Fortaleza, Pedro Rocha atenta para a necessidade de novas abordagens para questões de interesse público. Atuante também como produtora de videos institucionais para organizações e movimentos sociais, o Coletivo Nigéria permeia entre a função jornalística da denúncia com o "flerte cinematográfico".

No entanto, a questão financeira acerca do processo de construção dos documentários jornalísticos surge como uma questão ambígua. Apesar do fácil acesso a equipamentos, como câmera, microfones, programas de edição de vídeo, o diretor de Carne, Osso (2011), documentário que aborda o trabalho dentro de frigoríficos, Carlos Juliano Barros, atenta que a captação de recursos é um dos obstáculos para se contar uma história.

O jornalista pontua que a distribuição por meio de redes de televisão por assinatura, reflexo da Lei da TV Paga (12.485/2011) que obriga transmissão de conteúdo nacional em canais de TV fechada, é "uma janela importante", que compreende um quadro de ascensão de mercado, no qual há grande migração de assinantes.

Além disso, outra alternativa que viabilizou o acesso de Carne, Osso foi o reconhecimento como produção cinematográfica em festivais, como 'Festival de Gramado' e 'É Tudo Verdade', tornando-se vencedor do DOK Leipzig (Alemanha) em 2011, do Florianópolis Audiovisual Mercosul (FAM) em 2011 e do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos de Melhor Documentário para Televisão em 2013.

Para seu primeiro documentário, Pedro Rocha não contou com recursos externos. Agora, em seu mais recente trabalho, Defensorxs, o jornalista conseguiu financiamento por meio do Fundo Brasil de Direitos Humanos e via arrecadação colaborativa pelo site Catarse. Rocha também aponta que "enviar editais para redes de TV públicas é um ato político", já que a imersão nesses meios é uma forma de devolver o caráter denunciativo de reportagens documentais e abrir espaço para as produções regionais.

Carlos Juliano Barros coloca em xeque os mecanismos de incentivos às produções audiovisuais no Brasil. “Buscar financiamentos por editais ou patrocinadores é uma missão quase impossível”, critica ao citar a Lei Rouanet, que, indiretamente, beneficia mais as obras de entretenimento e assuntos mais brandos. É nesse contexto que o jornalista questiona “qual o lugar do documentário no âmbito do jornalismo investigativo?”.


O 10º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e da Universidade Anhembi Morumbi com o patrocínio do Google, O Globo, Estadão, Folha de S. Paulo, Gol, Itaú, Oi, TAM, Twitter e UOL, e apoio da ABERT (Associação Brasileira de Rádio e Televisão), ANJ (Associação Nacional de Jornais), Comunique-se, Conspiração, Consulado Geral dos Estados Unidos no Brasil, FAAP, Fórum de Direitos de Acesso à Informações Públicas, Jornalistas & Cia., Knight Center for Journalism in the Americas, OBORÉ Projetos Especiais, Textual e UNESCO. Desde sua 5ª edição, a cobertura oficial é realizada por estudantes do Repórter do Futuro, sob a tutela de coordenadores do Projeto e diretores da Abraji.

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