sábado, 4 de julho de 2015

Repórter que descobriu detenções secretas americanas encerra 10º Congresso da Abraji

Por Sara Abdo e equipe


Foto: Phillippe Watanabe
A repórter e escritora americana Dana Priest, do The Washington Post, encerrá hoje as mais de 30 horas do 10º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, que reuniu durante três dias em São Paulo, alguns dos maiores nomes do jornalismo. Vencedora do Pulitzer de 2006 pela extensa investigação sobre locais secretos de detenção dos EUA ao redor do mundo, Dana deu início à sua palestra comentando técnicas e procedimentos usados em mais de 30 anos de trabalho no mesmo jornal.


Uma das apurações mais longas realizadas por ela se deu em 2007, no Walter Reed Hospital, que trata veteranos americanos da Guerra do Iraque. Dana disse ter entrado nas instalações em inúmeras ocasiões, ao longo de quatro meses, sem nunca ter sido perguntada sobre sua identidade. "Eu simplesmente fui até lá. Não como uma mãe. Eu não teria mentido, mas ele nem me perguntaram. Quando eu via um segurança, eu me afastava e ficava em silêncio, quase invisível", contou. A reportagem revelou as péssimas condições do local e resultou na abertura de investigações e na renúncia de autoridades importantes envolvidas na gestão do local.

Um ano antes, ela havia revelado a existência de pelo menos 30 líderes da Al-Qaeda presos em instalações americanas espalhadas em diversas partes do mundo. A revelação foi um duro golpe de credibilidade para a Casa Branca e deixou à mostra diversas violações do direito internacional cometidas pelos EUA, além das já conhecidas em Guantánamo. "Comecei a questionar se as ações contra o terrorismo eram úteis, se funcionavam, se auxiliavam", disse.

Apesar de realizar o trabalho de investigação de maneira "camuflada", como no caso do hospital, Dana disse fazer questão de ter fontes, cultivá-las e, às vezes confrontá-las. Dana deu como exemplo, a exploração de diferenças existentes entre as diferentes divisões das forças armadas. Ela deu a dica de "se aproveitar dos rachas burocráticos para conseguir informações".

A cobertura da exposição de Dana e de todo o congresso foi feita por uma equipe de 20 estudantes de jornalismo e 10 recém formados que participam do Repórter do Futuro. A conclusão da edição foi feita apenas minutos depois do início da palestra da repórter do Washigton Post.

O 10º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e da Universidade Anhembi Morumbi com o patrocínio do Google, O Globo, Estadão, Folha de S. Paulo, Gol, Itaú, Oi, TAM, Twitter e UOL, e apoio da ABERT (Associação Brasileira de Rádio e Televisão), ANJ (Associação Nacional de Jornais), Comunique-se, Conspiração, Consulado Geral dos Estados Unidos no Brasil, FAAP, Fórum de Direitos de Acesso à Informações Públicas, Jornalistas & Cia., Knight Center for Journalism in the Americas, OBORÉ Projetos Especiais, Textual e UNESCO. Desde sua 5ª edição, a cobertura oficial é realizada por estudantes do Repórter do Futuro, sob a tutela de coordenadores do Projeto e diretores da Abraji.

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