sábado, 4 de julho de 2015

Congresso joga luz sobre o primeiro caso de jornalista esportivo assassinado no Brasil

Por Keytyane Medeiros


Beatriz Santos
Na véspera, de completar 3 anos do assassinato do jornalista esportivo e apresentador Valério Luiz Oliveira, o advogado e filho da vítima, Valério Luiz Oliveira Filho revelou detalhes sobre o caso durante o painel "Violência contra jornalistas" realizado no 10º Congresso de Jornalismo Investigativo promovido pela Abraji.

O caso aconteceu na cidade de Goiânia-GO, em julho de 2012, quando após uma série de críticas aos membros da diretoria do Atlético Goianiense, em especial, contra o acusado Maurício Sampaio. Valério foi assassinado com sete tiros enquanto saia do trabalho, à luz do dia. "Foi uma cena bastante simbólica do ponto de vista negativo porque a execução se deu na frente da rádio onde ele trabalhava e de onde proferia suas críticas."

O pai de Valério tinha 35 anos de carreira, trabalhou em emissoras de rádio e televisão e vinha de uma família de jornalistas esportivos. Foi o primeiro caso de assassinato à jornalistas esportivos no país. De acordo com o advogado, o jornalismo esportivo vai além dos jogos, partidos e tabelas. No caso do futebol, também existem interesses políticos e financeiros envolvidos e em casos como este, Valério Filho afirma que "existe um padrão em crimes contra jornalistas: todos acontecem porque eles afrontam verdadeiras máfias".

Neste sentido, Valério Filho afirma que os crimes são mais comuns em cidades do interior ou contra blogueiros e jornalistas de veículos com circulação municipal ou regional. Segundo ele, quanto maior a visibilidade do jornalista, menos encorajados os mandatários do crime se sentem. Apesar disso, a maior parte dos casos de agressão e violência não são apurados ou acabam engavetados. Segundo o relatório anual de violações à liberdade de expressão organizado pela ONG Artigo 19, foram registrados 55 casos de violência envolvendo agressão, homicídio, tortura e ameaças de morte contra jornalistas e blogueiros durante o ano de 2014.

O caso de Valério Luiz tem cinco suspeitos indiciados pela Justiça e atualmente o processo aguarda julgamento no Tribunal de Justiça de Goiás. O advogado acredita que a melhor solução é tornar os acontecimentos públicos e realizar mobilizações sociais. "A melhor solução e a melhor defesa, com certeza é a publicidade dos casos". 

Liberdade de expressão


Em situações de violência e repressão contra jornalistas por parte do Estado, Valério Filho acredita que se a Justiça fosse mais eficiente não seria necessário tamanha mobilização da sociedade exigindo posicionamento das instituições. "Os jornalistas de modo geral não se entendem como classe, mas como intelectuais. Isso enfraquece as ações em um caso como este. Instituições e veículos de comunicação tem que se comprometer mais."

O ideal é que o jornalista possa ir até onde for necessário, mas é preciso se questionar qual o papel e a responsabilidade do Estado e das instituições na proteção dos profissionais de comunicação e da liberdade de expressão. "Até onde as estruturas do Estado podem ir para proteger e julgar esses casos?", questiona.

O 10º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e da Universidade Anhembi Morumbi com o patrocínio do Google, O Globo, Estadão, Folha de S. Paulo, Gol, Itaú, Oi, TAM, Twitter e UOL, e apoio da ABERT (Associação Brasileira de Rádio e Televisão), ANJ (Associação Nacional de Jornais), Comunique-se, Conspiração, Consulado Geral dos Estados Unidos no Brasil, FAAP, Fórum de Direitos de Acesso à Informações Públicas, Jornalistas & Cia., Knight Center for Journalism in the Americas, OBORÉ Projetos Especiais, Textual e UNESCO. Desde sua 5ª edição, a cobertura oficial é realizada por estudantes do Repórter do Futuro, sob a tutela de coordenadores do Projeto e diretores da Abraji.

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