sexta-feira, 3 de julho de 2015

A boa cobertura política deve confrontar quem está no poder, dizem repórteres

Leandro Souza e Rodrigo Rangel. Foto: Isabel Silva
Leandro Souza (à esq.) e Rodrigo Rangel. Foto: Isabel Silva
Por Helena Carvalho Mega 

A boa ​cobertura da política nacional, onde interesses e antagonismos estão constantemente em jogo, depende da capacidade de o jornalista filtrar quais informações merecerem virar notícia e saber questionar quem está no poder.

As conclusões são do repórter da Folha de S. Paulo Leonardo Souza e do editor da revista Veja Rodrigo Rangel, que participaram de painel sobre o tema no 10º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji. A moderação foi realizada por Ricardo Galhardo, do Estadão.


Para Rangel, com longa experiência de jornalismo político do Distrito Federal, "Brasília é uma Torre de Babel, um emaranhado de interesses de todo tipo". Na visão do jornalista, o profissional de imprensa inserido nesse meio deve saber lidar com o bombardeio de informações e denúncias e se manter atento ao que tiver maior relevância pública.

O editor da Veja ressalta a importância de partir sempre do princípio da desconfiança e cercar-se de elementos que ofereçam segurança ao publicar a notícia. A paciência, a seu ver, deve ser a principal aliada durante o processo investigativo. "Não adianta publicar e checar depois", enfatiza.

O repórter da Veja disse que o dever da imprensa é acompanhar criticamente quem está no poder e não ser condescendente.

Para Leandro Souza, o tiroteio de partidos políticos faz o jornalismo viver um período fértil. Porém lembra que, em tal contexto, "o jornalista não deve ter lado certo", mas estabelecer o interesse da sociedade acima de qualquer outro. "A maior vitrine é quem está no poder e o papel da imprensa é escrever sobre eles", conta.

Estratégias sugeridas pelo repórter, como colecionar documentos e gravações antigas e procurar ter uma visão diferenciada da versão que procuram vender, foram utilizadas por ele em uma investigação sobre o caso do então diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, através da qual descobriu bens não declarados que o destituíram de seu cargo, em um momento no qual toda a mídia estava à figura de José Sarney, que se lançava como candidato.

O 10º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e da Universidade Anhembi Morumbi com o patrocínio do Google, O Globo, Estadão, Folha de S. Paulo, Gol, Itaú, Oi, TAM, Twitter e UOL, e apoio da ABERT (Associação Brasileira de Rádio e Televisão), ANJ (Associação Nacional de Jornais), Comunique-se, Conspiração, Consulado Geral dos Estados Unidos no Brasil, FAAP, Fórum de Direitos de Acesso à Informações Públicas, Jornalistas & Cia., Knight Center for Journalism in the Americas, OBORÉ Projetos Especiais, Textual e UNESCO. Desde sua 5ª edição, a cobertura oficial é realizada por estudantes do Repórter do Futuro, sob a tutela de coordenadores do Projeto e diretores da Abraji.

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