sexta-feira, 3 de julho de 2015

Jornalistas discutem a representatividade negra na mídia e a ausência de negros nas redações

Por Beatriz Sanz


Foto: Camila Alvarenga
Segundo dados da pesquisa "Quem é o Jornalista Brasileiro", feita pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em parceria com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), apenas 5% dos profissionais da área são negros. Essa defasagem racial foi um dos temas tratados pela colunista do jornal O Globo e comentarista da Globo News, Flávia Oliveira, e pelo diretor da revista O Menelick 2º Ato, Nabor Jr., ambos negros, nascidos na periferia e com uma longa vivência no jornalismo.


Abrindo as discussões, a mediadora Natália Paiva, diretora da ONG Transparência Brasil, mostrou para os congressistas alguns dados sobre a realidade negra no Brasil.

Ainda nessa linha, Flávia mostrou depoimentos de personalidades negras brasileiras e internacionais sobre o racismo no Brasil, como declarações dadas pelo ex-presidente do STF, Joaquim Barbosa, e a escritora nigeriana Chimamanda Adichie.

Segundo a jornalista, esta é uma questão que precisa de um olhar estrangeiro. "Por que, especialmente nós jornalistas, não somos capazes de exercitar esse olhar estrangeiro sobre a nossa sociedade? Nós precisamos curar essa miopia de ver tudo invisível quando se trata de preto e pobre", reiterou.

"Os empregadores ainda precisam perceber que a diversidade rende. Além de melhorar a qualidade do produto final e a imagem do próprio veículo que passará a ser visto como mais humanista, mais diversificado", falou Flávia quando questionada sobre como aumentar a presença dos negros nas redações. Ela ainda disse que as políticas de ações afirmativas precisam partir espontaneamente das empresas.

Já Nabor, distribuiu para os presentes na sala exemplares da Menelick 2º Ato, que você pode acessar aqui, e problematizou a questão da imprensa negra brasileira. "A universidade peca em não ter uma disciplina de história da imprensa negra, por exemplo".

Racismo não é brincadeira

"Injúria racial é crime, não é brincadeira de mau gosto; tem que saber que palavras usar, tem que respeitar a dor do outro", deixou claro a colunista.

Natália Paiva, lembrou o caso da bailarina americana Misty Copeland, que foi tratada por um jornal brasileiro como mulata. "Às vezes as pessoas não percebam o quanto essa palavra carrega de tom depreciativo e de hipersexualidade". Nabor Jr. acrescenta, que "o tom da pele no Brasil é negociável".

Ambos os palestrantes concordaram que quando o negro é a notícia, sempre se trata de um crime (e o negro é o bandido), ou está presente no caderno de esportes. "Quando o negro é vítima, ele nem merece ter seu nome no título da matéria", lembrou Nabor.

"A palestra foi maravilhosa porque ajuda a abrir a mente pra um tema que precisa ser mais discutido, inclusive para sensibilizar mais pessoas para essa causa que não é uma causa qualquer", disse a aluna de jornalismo da Anhembi Morumbi, Fernanda Valente.

"Pra mim, enquanto negro é muito interessante ver negros bem sucedidos dentro da profissão e que conquistaram seu espaço com capacidade e talento. Além disso, aqui pudemos ver o quanto o protagonismo da questão racial tem que ser dos negros, porém sem desmerecer os brancos dispostos a participar", afirmou Chaian Raiad, aluno de jornalismo da Anhembi Morumbi.

A ideia que ficou para quem acompanhou o debate é de que o tema deve ser mais discutido e que os negros precisam ser melhor representados na sociedade brasileira e não só chamados para discutir o racismo.

Dicas dos palestrantes para se aprofundar no tema:

  • Documentário americano “The New Black” (2013), da produtora Yoruba Richen. Assista o trailer;
  • "Espelho Infiel - O Negro no Jornalismo Brasileiro", de Rosane da Silva Borges e Flávio Carrança;
  • "Guia para jornalistas sobre gênero, raça e etnia", disponível online.

O 10º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e da Universidade Anhembi Morumbi com o patrocínio do Google, O Globo, Estadão, Folha de S. Paulo, Gol, Itaú, Oi, TAM, Twitter e UOL, e apoio da ABERT (Associação Brasileira de Rádio e Televisão), ANJ (Associação Nacional de Jornais), Comunique-se, Conspiração, Consulado Geral dos Estados Unidos no Brasil, FAAP, Fórum de Direitos de Acesso à Informações Públicas, Jornalistas & Cia., Knight Center for Journalism in the Americas, OBORÉ Projetos Especiais, Textual e UNESCO. Desde sua 5ª edição, a cobertura oficial é realizada por estudantes do Repórter do Futuro, sob a tutela de coordenadores do Projeto e diretores da Abraji.

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