quinta-feira, 2 de julho de 2015

Nem só de frases se faz um jornal

Por Maria Clara Moreira

Foto: Phillippe Watanabe
O leitor disponibiliza em média 33 minutos por dia para ler um jornal impresso. A informação é do anuário da Associação Mundial de Jornais e Publishers de Jornais, divulgado em junho deste ano. Esse tempo curto reforça a importância de um projeto editorial gráfico que complemente as reportagens e otimize a absorção de informação.

"O design gráfico e o texto impresso não são elementos antagônicos, mas dois mundos que convergem", disse Gil Dicelli, diretor visual do jornal O Povo, durante o 10ª Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji. A essa convergência dá-se o nome de jornalismo visual, uma das mais importantes linguagens para transmissão de uma mensagem.


Segundo Dicelli, a disposição de textos e imagens pode ser responsável pela identificação e comunicação clara entre público e veículo. É o caso também do Extra, jornal carioca capitaneado por Octavio Guedes, duas vezes vencedor do prêmio Esso. A publicação se apoia em elementos visuais para facilitar a transmissão de mensagens complexas em uma publicação notadamente popular. "Para explicar o Mensalão, por exemplo, nós traçamos paralelos com os personagens de Avenida Brasil", contou Guedes.

Cabe à construção gráfica conduzir os olhos do leitor sem se tornar a força maior da página, interferir na qualidade da leitura ou servir de simples adorno. Ela não pode dar vez ao acaso: imagens, tipografia, posicionamento de títulos, retículas e boxes - todos os elementos do projeto devem ser pensados com um objetivo definido. Quando relegado a um papel coadjuvante e negligenciado, o design produz ruídos que dificultam a compreensão e conduzem mal a leitura. "É preciso combater os 'achismos' de editores na hora de montar uma página", explicou Dicelli.

Assim como a prosa é regida pela gramática, a disposição gráfica também tem sua linguagem, como a ordem de leitura das matérias, a rapidez na transmissão da informação, a localização de assuntos e o entendimento pleno da reportagem. No alfabeto do jornalismo visual, as vogais dão lugar à geometrização, gestalt (contraste entre figura e fundo), tipografia, cores e equilíbrio.

Márcia Okida, designer gráfico e membro da Society for News Design, defende que o conjunto gráfico espelha o público-alvo de uma publicação, levando à segmentação da mídia impressa. No Extra, Octavio Guedes aposta em capas que apelem ao leitor pela criatividade, relegando o refinamento a segundo plano. “Às vezes temos fotos sem qualidade suficiente de pixels, mas com informação. Nós somos um jornal popular, damos notícias de jogadores de futebol na noite. São imagens de paparazzi, não tem qualidade mesmo”, comentou. “E aí, não damos? Temos que dar. Mesmo que seja um hectoplasma do Adriano, precisamos dar. É notícia”.

O 10º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e da Universidade Anhembi Morumbi com o patrocínio do Google, O Globo, Estadão, Folha de S. Paulo, Gol, Itaú, Oi, TAM, Twitter e UOL, e apoio da ABERT (Associação Brasileira de Rádio e Televisão), ANJ (Associação Nacional de Jornais), Comunique-se, Conspiração, Consulado Geral dos Estados Unidos no Brasil, FAAP, Fórum de Direitos de Acesso à Informações Públicas, Jornalistas & Cia., Knight Center for Journalism in the Americas, OBORÉ Projetos Especiais, Textual e UNESCO. Desde sua 5ª edição, a cobertura oficial é realizada por estudantes do Repórter do Futuro, sob a tutela de coordenadores do Projeto e diretores da Abraji.

Nenhum comentário:

Postar um comentário